terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Dado Dolabella

Carlos Eduardo Bouças Dolabella Filho

¤ 20/07/1980 – † 28/10/2010
Pacifista
Epitáfio: “Tu, pessoa nefasta/Vê se afasta teu mal/
Teu astral que se arrasta tão baixo/No chão” 
(Gilberto Gil)
Produto moldado na série que há 15 anos tem sido o buraco negro de onde escapam personagens cuja presunção não cabe em nossa realidade dimensional – a hermética Malhação – Dado Dolabella é um personagem de si mesmo que já nasceu sob o signo da canastrice que transcende parâmetros.
Filho do falecido ator Carlos Alberto Dolabella e da atriz Pepita Rodrigues, criou-se no seio do permissivo alto clero da Rede Globo para se tornar, nos primeiros anos de sua carreira, um eficiente evangelizador da filosofia “Leite com Pêra” que, aliás, encontra importante amparo no provincianismo da classe média branca encastelada nos Leblons da vida.
Apesar de sua audácia em vilipendiar a profissão dos pais e ainda definir-se como cantor apoiado sobre o despautério gramatical do seu hit “Vem Ni Mim”, ainda não conseguiu sequer fazer jus ao rótulo de figura infame que lhe fora definitivamente atribuído por sua atuação na primeira edição de A Fazenda”.
Os nervos de aço, forjados na rotina de patifarias e escândalos de sua vida pregressa, revelaram-se como o equipamento diferencial que lhe propiciou larga vantagem nos embates contra os demais participantes e que, por fim, o sagrou vencedor daquela edição do ignominiosoreality show cujo formato só prospera neste tempo e espaço em que não ser um débil mental, ou não agir como tal, é comportamento deselegante e quase anômalo.
Com o caráter irremediavelmente deformado pelas noções irreais de mundo adquiridas nos únicos volumes que leu ao longo de seus 30 anos de vida – ou seja, scripts de novelas – só é capaz de chamar a atenção sobre si pela notória truculência com que desconta em suas mulheres todas as suas frustrações de sujeitinho improfícuo.
Sua propensão à violência o manteve a salvo do completo anonimato por transformá-lo em figura fácil na imprensa de terceiro escalão mas também já lhe rendeu uma condenação por espancar – “sem a intenção de machucar” – a ex-namorada e atriz de marzipã Luana Piovani.
Mas o fracasso de sua vida pessoal não seria completo se seu casamento com Viviane Sarahyba, mãe de um de seus filhos, não tivesse também se transformado em caso de polícia. A publicitária pediu o divórcio após atingir a marca recorde de pouco mais de dez meses de convívio com Dolabella, e, por esta época, compareceu ao plantão policial para denunciar que o marido, talvez no intuito de aliviar-se da saudade dos tempos em que praticava um elegante boxeem La Piovani, insistia em lhe desferir golpes em plena intimidade do lar.
Bem que se poderia omitir a sortida lista de famosas que nos divertiriam, de certo, com ricos detalhes de alcova daqueles tempos em que a baixa auto-estima lhes propiciou o constrangimento de posarem, cada uma a seu tempo, como a “namoradinha da estação” de Dadinho.
No entanto, é consenso que ninguém que se preste à semelhante serviço está dispensado do vexame de ser eternamente lembrado do momento de fragilidade emocional vivido, mesmo que devidamente justificado por avaliação de doutor psiquiatra, e por isso, cumpro aqui meu dever cívico de relacioná-las na lista que segue:
Wanessa Camargo, única dentre elas a admitir publicamente o antigo namoro (o que de forma alguma testemunha a seu favor no julgamento do próprio desleixo); Deborah Secco, que nos entreteria mais tarde com exibições da pomposa galhada que o boleiro Roger Flores se esmerou em lhe infligir; Danielle Winits, que até o momento da publicação deste artigo continuava a descer os degraus de sua dignidade ao lado de Jonatas Faro; Maria Paula, a “Casseta” que presenteou o marido, João Suplicy, com o divórcio após ele ter seu “Brothers” sumariamente eliminado da programação da Rede TV! e; a lendária Adriane Galisteu, cujo currículo a dispensa de maiores apresentações.
Esses questionáveis arquétipos femininos, misturados à imagem da mãe superprotetora, Pepita, que se revela como verdadeiro estudo de caso sempre que intervém, em defesa do filhote, com seus comoventes solilóquios denunciadores de um grave quadro de alienação, o tornaram convicto de que a mulher é um ser de segunda classe, conceito que faz questão de propagar em seu modus operandi.
Com uma ficha corrida que, além da já mencionada violência doméstica, inclui também passagens por dirigir sobre a influência de álcool e porte de drogas, Dado acabou por abusar de seu direito de bancar o cretino ao defender a legalização das drogas num programa de alcance nacional, não tanto pelo mérito da questão, mas pela sua abordagem canhestra do assunto.
No claro objetivo de justificar sua conduta reprovável em todas as esferas do convívio civilizado, atentou contra a razão em vários momentos de uma argumentação rudimentar que se perdeu definitivamente na viagem sem volta de tentar alinhar a realidade social do país lindo e trigueiro à da Holanda, falta que por si somente já o desqualifica do debate de quaisquer assuntos que envolvam outras existências que não a dele mesmo. Unicelulares aí incluídos.
Por fim, Dado ignora ou finge ignorar – e não se sabe ao certo se por cinismo, completa falta de contato com o mundo real ou uma miscelânea de características ligadas à falta de caráter na qual os motivos anteriores também estão contidos – que suas atitudes o promoveram a pior defensor imaginável de todas as bandeiras que empunha e causas que abraça.
Sobretudo as próprias.

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