Estamos
todos carentes de amizades fiéis, recíprocas, consolidadas na caridade e que
nos levem a crescer intelectualmente, emocionalmente e psicologicamente. Nos
últimos anos tenho presenciado e vivido relações interpessoais cada vez mais
desfiguradas, confusas e/ou abstratas. Isso tem provocado minha impaciência,
meu desamor e minha intolerância frente aos meus semelhantes.
O
papa Francisco, na Exortação Apostólica Amoris
Laetitia – sobre o amor na família –
nos lembra que “ter paciência não é deixar que nos maltratem permanentemente,
nem tolerar agressões físicas, ou permitir que nos tratem como objetos” (AL nº
92). No entanto, meu coração vai além do que indica o Santo Padre. Entrego-me,
pois, aos sentimentos de ira e de liberação de impulsos de maneira
indiscriminada, tornando as relações que não considero verdadeiras, honestas e
sinceras num campo bélico de péssimas emoções. Como não ser assim? Ainda não
sei!
Tem
sido uma constante, nos últimos tempos, a minha percepção – talvez exagerada e
cristalizada – de atitudes de alguns que me cercam, indicando claramente um
desgosto ou infelicidade pelo bem que acontece na vida de outras pessoas. Essa
inveja que engessa o coração e faz insensível à alegria pelo bem-estar do
próximo, tem inquietado minh’alma. Todos têm direito à felicidade. Essa é uma
lei cósmica.
Recentemente
partiram da minha vida (mesmo estando vivas), pessoas que enxergavam os
acontecimentos e fatos cotidianos a partir dos seus umbigos. Falavam excessivamente
de si mesmas, analisava o comportamento dos semelhantes por uma ótica duramente
egocêntrica. Lobrigavam tudo a partir de si; recusavam-se a sair do centro e
andar pelas periferias existenciais dos mais próximos – dos que diziam “amar” –
inclusive a mim (incluso nos amigos periféricos). Você também sente-se assim?
Tais
pessoas são incapazes de abdicar das próprias qualidades, dos prazeres egoístas
e hedonistas, pois consideram-se num patamar de beleza, intelectualidade e
perspicácia superior aos demais seres da sua comunidade.
Em
suma, são pessoas que elevaram sua arrogância a níveis insuportáveis. Recusam-se
a cada instante em curar seu orgulho, sua prepotência e sua pernosticidade. É
inegável que esses seres “do mal” só se aproximam das pessoas para que (e
quando) estas satisfaçam suas necessidades. E sem pudor nenhum, descartam os
seres - “usados para seu proveito próprio” - como se fossem objetos obsoletos. Para
auxiliar na reflexão, trago fragmentos de um texto belíssimo de Mário
de Andrade, que diz: "Contei
meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do
que já vivi até agora. Tenho muito mais
passado do que futuro. [...] Já não
tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho
tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha. Já não
tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade
cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos que
brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. ‘As pessoas não
debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa… [...] O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o
essencial!" (GIMENES, s/d, s/p). GRIFOS MEUS
REFERÊNCIAS
AL. AMORIS LÆTITIA. Exortação apostólica pós-sinodal do
Papa Francisco sobre o amor na família. Disponível em http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html .
Acesso em 31.03.2017.
GIMENES, Nicholas. O Essencial - Mário de Andrade
(Palavra Aguda). Disponível em <
http://www.nicholasgimenes.com.br/2010/09/o-essencial-mario-de-andrade-palavra.html>.
Acesso em 31.03.2017.
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