terça-feira, 12 de novembro de 2013

O medo em poesia

O medo é o sentimento mais paralisante que existe. Quando tememos amar, nós estacionamos diante de gestos concretos que estavam para ser realizados. Quando tememos ser "de Deus", nos eximimos de ir ao encontro daqueles que de nós (e Dele) precisam. E quando temos medo de assumirmos nos erros buscamos os erros dos outros, por vezes os mais banais, e assim produzimos seu julgamento e execração públicos - como uma forma de tentar expurgar nossas culpas (estranho né?)... Como dizia o poeta: 

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

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