quinta-feira, 7 de março de 2019

A VIOLÊNCIA: BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?*

*Pe. Nicolau João Bakker

Nós, seres humanos, somos extremamente “pré-determinados” pelo nosso espaço e pelo nosso tempo. Julgamos o nosso mundo a partir do local onde estamos inseridos, ou a partir dos espaços onde estivemos inseridos e que ainda permanecem na nossa memória. Pela comunicação humana, falada ou escrita, podemos inteirar-nos das experiências vividas por outras pessoas, em outros lugares e em outros tempos, mas, ainda assim, aquelas experiências “alheias” são acolhidas e “traduzidas” pelo nosso cérebro sempre de forma “interpretativa”. Simplesmente não temos acesso direto e objetivo ao mundo que nos envolve. Em sua importante obra A árvore do conhecimento, os neurobiólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela demonstraram que todo o “acoplamento” ao nosso exterior passa pelo sistema nervoso que age como um “circuito fechado”. [...]


No decorrer da Modernidade, os cientistas tentaram de todas as formas chegar à “objetividade”. Foram efetuadas pesquisas em todos os campos do saber, e inúmeras “verdades objetivas” foram proclamadas no decorrer dos séculos. De fato, com base nas descobertas científicas realizadas, construiu-se o mundo tecno-científico que está aí e que tanto nos fascina. Desde o século passado, porém, a euforia científica sofreu sérios reveses. A física quântica veio demonstrar que a realidade física é muito mais “enigmática” do que se pensava. Em sua dimensão mais íntima, ela é matéria e, ao mesmo tempo, uma onda de infinitas possibilidades. O próprio ato da observação faz a onda “colapsar” para, então, por assim dizer, “mostrar a cara”. Em muitos sentidos, o mundo que temos é tal como o concebemos. Mas, quantos outros mundos poderíamos ter concebido e, mais, ter feito acontecer!? Há algo de misterioso em tudo isso, e as grandes religiões mundiais estão aí para desvendar o mistério e oferecer pistas de ação. Em nível mundial, uma nova (e ao mesmo tempo muito antiga) sensibilidade se faz presente. Filósofos e cientistas discutem o tema e alguns, como o especialista em alta energia, Fritjof Capra, em O tão da física, estabelecem um claro nexo entre a física moderna e a espiritualidade, especialmente a oriental.

Neste esforço de olhar para o nosso mundo, e interpretá-lo, um dos grandes desafios é dar conta do problema da violência. De onde ela vem, e porque ela existe? 

Se ela é inevitável, qual a melhor maneira para enfrentá-la, e qual a luz que nos vem da mensagem cristã? Refletir sobre isso é o objetivo deste artigo.

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