segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O surgimento de cristãos de segunda categoria (o laicato na Igreja e no mundo 5)

Nos primórdios da Igreja, antes do surgimento do termo “laós/leigo”, já havia o termo klerós, mas, não para designar os ministros ordenados e, sim, os cristãos levados ao martírio. No início do séc. III, quando se passa a atribuir o termo laós/leigos aos fiéis não-ordenados, é quando também se passa a designar os fiéis ordenados de klerós/clero. Aos poucos, as duas categorias de cristãos não só vão se distinguir entre si, como praticamente também se separar. O clero passará a monopolizar todas as iniciativas na comunidade eclesial, fazendo dos leigos destinatários ou objetos da ação da Igreja. Estes, antes sujeitos que elegiam até os bispos, já não tem mais poder de decisão e são enquadrados dentro dos parâmetros da “plebe” na religião judaica e pagã, classe iletrada e inferior. Fora da classe dos ordenados, que são “a” Igreja, estão os monges nos conventos e os leigos no mundo.


No século IV, com a passagem do cristianismo de religião perseguida a religião protegida pelo império, a distinção e separação dos fiéis em duas classes de cristãos já estará consolidada. Com o desaparecimento do catecumenato, substituído por uma deficiente catequese, os leigos vão justificar sua fama de iletrados. Haverá uma monopolização por parte do clero não só da ação da Igreja, como dos próprios ministérios até então conferidos aos leigos e leigas, desaparecendo inclusive o diaconato. Contribuirá para a separação dos fiéis em duas categorias de cristãos, a clericalização também da teologia, fazendo aumentar ainda mais a brecha entre fiéis letrados e iletrados, no seio de uma comunidade de desiguais. É a Igreja configurada no binômio clero-leigos. 

Mesmo com parecer contrário de alguns sínodos, pouco a pouco o clero passa a vestir-se diferente, copiando os trajes da nobreza, sobretudo na liturgia. A exemplo da religião pagã ou judaica, a liturgia se clericaliza, passando a ser celebrada somente pelo “sacerdote”, o ministro ordenado, de costas para o povo, num presbitério separado da nave do templo, de onde os leigos assistem. A comunhão passa a ser dada na boca e recebida de joelhos, sem acesso ao cálice.  

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