O pequeno Samuel...

No dia do nascimento de Samuel estávamos em êxtase, era a realização de um grande sonho, a chegada do nosso filho, o filho que por tantas vezes pedimos à Deus, mas o que não sabíamos era que também seria o início de um grande pesadelo.

Ainda na gestação descobrimos que Samuel só tinha 1 rim e que esse rim estava com uma pequena dilatação mas o médico nos disse que provavelmente não seria nada grave. A dilatação aumentou e precisamos antecipar o parto, ainda assim o médico continuou a nos tranquilizar dizendo que já havia visto muitos casos assim e que o bebê tomava uns remedinhos e ia para casa.

Ainda na sala de parto, chorando de alegria ao ouvir o chorinho forte do nosso filho, a médica trouxe ele para tirarmos foto e disse para sermos rápidos, pois Samuel havia nascido com o ânus imperfurado e precisaria ir para UTI, nesse momento nosso mundo desabou, nosso pesadelo estava se repetindo... Não suportaríamos perder um filho novamente, toda nossa alegria havia se transformado em medo e já não sendo difícil ouvir a notícia meu obstetra colocou a mão no meu ombro e disse: “Você já aguentou muita coisa, vai aguentar isso tb.” Nunca ouvi nada tão desumano! O pesadelo estava ganhando forma.

No dia seguinte, assim que vimos Samuel na uti fomos informados que ele precisava de uma cirurgia e seria transferido para outro hospital, pois a cirurgia era cara e naquela maternidade meu plano não cobria. Assim meu filho foi para outro hospital acompanhado pelo pai e eu fiquei ali com minha cunhada, sofrendo, com medo, e sem saber direito o que estava acontecendo com meu filho.

Com 36hs de nascido Samuel passou por sua 1ª cirurgia, fez uma colostomia. Recebi alta, corri da maternidade para o hospital que ele estava, mas não cheguei a tempo de vê-lo, ele já estava em cirurgia. Eu sequer tinha tido a chance de segurar meu filho no colo.

Chorei durante as 2hs de cirurgia, pensei que iria morrer de tanto desespero e de repente minha cunhada veio eufórica me dizendo: “A cirurgia acabou, ele está bem!” Foram as palavras mais lindas que ouvi na minha vida, aquela frase nos devolveu o fôlego e a esperança.

Os dias foram passando e vimos nosso filho se recuperando na UTI, pensamos que tudo estava se resolvendo e logo iríamos para casa e aquele pesadelo estaria terminado, mas ainda na UTI, chorando por não poder levar nosso filho logo para casa, a cirurgiã colocou a mão no meu ombro e disse que eu precisaria ser forte, pois meu bebê iria precisar de vária cirurgias. Novamente ficamos sem chão!

Foram 10 dias de UTI e 26 de enfermaria, chorei tanto que achei que não seria capaz de parar, de suportar tudo aquilo...

Quando recebemos alta parecia que estávamos renascendo, saímos do hospital e enfim eu teria meu filho pra mim... 

15 dias depois voltamos com Samuel queimando em febre para o hospital, o medo voltava a tomar conta, o pesadelo estava recomeçando...

Dessa vez era o rim, Samuel estava com refluxo urinário grave, não havia nem completado 2 meses de vida e já precisaria passar por sua 2ª cirurgia. Novamente 2hs de cirurgia, dessa vez consegui acompanhá-lo ao centro cirúrgico, mas precisei ser retirada pois estava emocionalmente arrasada.

Aguentamos mais 15 dias de hospital e enfim recebemos alta. Agora Samuel estava com 2 ostomias e a gente não fazia ideia de como conseguiríamos cuidar dele em casa, mas Deus nos capacitou.

Samuel precisava de acompanhamento com alguns especialistas, dentre eles uma Nefropediatra, e a primeira que nós fomos não nos deu muita esperança, disse que o caso era muito grave e que nós deveríamos nos apegar com Deus pq às vezes passamos por perdas difíceis e o caso de Samuel era muito grave... Saímos do consultório arrasados, eu chorando e com muito medo de perder nosso filho, mas eu disse à Deus que eu e Mário daríamos o sangue por Samuel e que ele era nossa promessa. Implorei para Deus permitir a vida e a recuperação do nosso filho.

Resolvi procurar outra Nefro, e por várias indicações procurei Dra. Audrey, um anjo que apareceu nas nossas vidas... Ela nos explicou que o caso de Samuel era muito grave, pois além de ser rim único, o rim de Samuel tinha um refluxo gravíssimo e defeito de rotação, mas que com alimentação balanceada, remédios dados corretamente e muito amor Samuel viveria por anos... Essas palavras pareciam a voz de Deus sussurrando no meu ouvido a resposta às minha orações.

Seguimos à risca as recomendações e os cuidados com Samuel e aos 10 meses ele foi submetido a sua 3ª cirurgia, uma cirurgia programada para fazer a abertura do ânus. A médica nos explicou que seria uma cirurgia longa e delicada mas que ela estava confiante, mesmo assim ficamos apreensivos, com o coração angustiado, até que minha irmã me ligou e disse que havia recebido uma revelação e sabia que era pra mim, pois dizia assim: “Quando vc faz uma viagem longa de avião o que vc faz? Encosta a cabeça na poltrona e dorme pq vc confia no piloto, então confie no piloto agora, encoste a sua cabeça e descanse” Era com certeza uma mensagem de Deus para nós, e assim fizemos! 

Foram mais de 6 horas de cirurgia, mas que no final foi um sucesso! Cinco dias de uti e tudo corria bem até que Samuel começou a vomitar e a cirurgia precisou de um dreno, no dia seguinte Samuel não havia melhorado e a médica me disse que Samuel precisava de uma cirurgia de emergência, pois seu intestino havia parado. Naquele corre-corre para levá-lo ao centro cirúrgico vi meu mundo desabar.

Horas de cirurgia e eu e Mário ali, sentados, com a sensação de que nossos corações nem batiam mais, mas mais uma vez Deus nos abençoou e correu tudo bem. 9 dias depois estávamos voltando para casa.

Ainda faltava a cirurgia mais delicada, o reimplante ureteral, pois envolvia o rim e a médica estava temerosa, pois os pós operatórios de Samuel não eram fáceis e em todas as cirurgias anteriores precisou voltar ao centro cirúrgico, até esse momento Samuel já havia passado por 4 grandes cirurgias e 2 processos menores de pequenas correções e havia apresentado resistência a vários antibióticos.

Eu estava desesperada com essa 5ª cirurgia, pois nosso filho já estava com 2 anos e meio e a ideia de perdê-lo me enlouquecia. Briguei com Deus, questionei, implorei, gritei e por fim entreguei em suas mãos mais uma vez e pedi que Ele falasse ao meu coração qual decisão eu deveria tomar, se deveria ou não permitir essa cirurgia e a resposta veio com meu coração se tranquilizando e aceitando a cirurgia.

Em 23 de outubro de 2021 Samuel entrou no centro cirúrgico pela 5ª vez para fazer a cirurgia mais delicada e apesar da apreensão de mãe meu coração estava em paz. Foram mais de 6hs de cirurgia e mais uma vez Deus operou o milagre, a cirurgia foi um sucesso! Depois de 7 dias internado tivemos alta.

Na revisão da cirurgia de Samuel a cirurgiã o examinou, se recostou na cadeira, olhou pra mim sorrindo e disse: “Terminei de corrigir Samuel”. Nesse momento meu coração explodiu de gratidão a ela, que operou meu filho sempre com sua melhor equipe e de forma tão cautelosa e principalmente à Deus, que esteve conosco em todos os segundos dessa tempestade, que está nos permitindo ver nosso filho crescer, correr, fazer muita bagunça, e ter saúde para aguentar tanta coisa mesmo sendo tão pequeno.

Por várias vezes encostei a minha cabeça no travesseiro e disse: “Senhor, eu vou dormir, pois entreguei a vida de meu filho a Ti”

Durante todas as cirurgias tivemos a impressão que nossos corações não batiam, que não respirávamos, encostávamos a cabeça no sofá e aguardávamos ali quietos, calados, sem vida... Até que a notícia do fim da cirurgia chegava e nós ganhávamos vida novamente.

Hoje Samuel cresce fazendo acompanhamento com vários profissionais e com restrição alimentar, mas é um menino lindo, forte, feliz, saudável e muito, muito amado!

OBS: Esse relato é verídico. Foi cedido por uma mãe de Canindé/SE.